no tempo em que de ti estive próximo
do que de ti me propunha descobrir
tenho que confessar...
não creio ter descoberto muito
falha minha...
eu sei
a revisão da graduação das lentes dos meus óculos impõe-se com a maior urgência
mas tenho que te agradecer a oportunidade
porque na tentativa de te descobrir
acabei por descobrir de mim e em mim
o que apenas surgia como ideia remota do que poderia ser
descobri que quando me liberto do que quero
encontro a vida que não imaginava
cheia de tudo o que o melhor dos meus desejos não desenha
e no meio da qual tu surgiste
descobri a possibilidade de reinventar a vida
viabilizando-me numa realidade diferente da que tinha por minha
sem que o medo me levasse a uma qualquer condição
que me comprometesse na experiência plena da existência
descobri que os certos e os errados que me organizavam na proximidade do mundo
não existiam para lá das razões de que nem eu me lembrava
e que só eu advogava
descobri que o espaço que em mim imaginava imenso
para aceitar o universo que alcançava na relação com o que me rodeava
é ainda maior do que pensava possível
descobri que a lógica que acreditava incontestável na vivência dos afectos
falhava no embate com a realidade
não porque nos outros houvesse inconsistências
mas porque nem em mim ela fazia sentido
descobri que quando o amor se transforma em dor
já não é amor
é engano
não pelo que o outro faz ou deixa de fazer
mas pelo que eu insisto em desejar ver cumprido pelo outro
apesar do que o outro pode ou quer
ou imagina que dele é esperado
descobri que não tenho que desejar nada
que a liberdade e a felicidade já existem em mim
e se nelas quiser existir
apenas tenho que olhar para mim mesmo e deixar que aconteçam
descobri que onde me julgava mestre
apenas me cabia ser aprendiz
e foi o que fiz...
não te consegui descobrir
mas tenho que te agradecer a oportunidade
de me ter descoberto um pouco mais na proximidade de ti
por isso te digo...
com todo o bem querer do mundo
abraço-te
estejas onde estiveres
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