domingo, 24 de maio de 2009

O lugar do medo

abro a porta à existência
num lugar longe do meu entendimento
e sinto na pele o ar quente e denso que me envolve

a estranheza da sensação é acompanhada de uma espécie de dissolução das formas que me vestiam...
deixo de me ver
e o que do que me rodeia sinto e percebo... não consigo palavras que o traduzam

fico mudo cada vez que procuro falar
e quando consigo fazê-lo
não consigo dizer nada que faça sentido

atordoado
tento recuar... mas a porta que atravessei não existe mais
e por mais que chame... ninguém me responde
porque não existe seja quem for

nem eu mesmo...

num último esforço da razão
procuro afirmar vontades e convicções distantes
procuro vestir as dores que me faziam alguém num mundo de amores sonhados
felicidades construídas e liberdades adiadas

mas as dores são pequenas para me prender ao seu mundo insano

tento as minhas últimas manifestações de ruído
neste lugar de silêncio em que me encontro
sem qualquer sucesso

voltar atrás já não é possível
por isso deixo-me levar pela corrente da vida
até que a corrente dos silêncios me reclame por inteiro

enquanto não parto...
vou gozando da vida aquilo que ela tem de melhor e de pior para me oferecer
à luz de um qualquer entendimento

já não consigo encontrar em mim o lugar do medo