a minha vida não acontece de acordo com a minha vontade
a única coisa que a minha vontade faz
é tornar-me prisioneiro de uma meta por cumprir
para além do tempo em que o seu cumprir faria sentido...
à luz do meu entendimento e do que tinha por conveniente
no que acontece e não acontece
aprendi a ideia de destino e de fatalidade
deles procurei antecipar as formas...
mas para minha surpresa... nunca as encontrei
tropecei sempre na tentativa de legitimação da minha vontade
e quando não era minha a vontade
era a que de alguém aceitava em mim dar corpo
não existe tal coisa como o destino... ou a fatalidade...
existe apenas um entendimento enviesado da vida
ditado pelos filtros das vontades e desejos de cada um
que na dor ou na alegria do que se entende cumprir
fundam o sentir que os anima no existir que protagonizam
há demasiadas vontades para tentar cumprir
no entendimento e conveniência do que cada um toma como destino
há demasiados destinos e fatalidades que vontade nenhuma coloca no horizonte como meta...
e só acontecem porque insisto em tentar fazer valer a minha vontade
retiro da vida as minhas vontades que para além de mim poderia desejar cumprir e aos outros obrigar
aceito o que a vida me oferece em cada momento
e o destino... ou a fatalidade desaparecem...
percebo-me livre...
percebo a teia de vontades em que os que me rodeiam se enleiam
como percebo a tentativa que em nome das melhores causas pessoais ou colectivas
se tenta que me envolva...
mas estou cada vez mais fora desse circuíto
uma vez saboreada a liberdade... não é possível voltar atrás
vou estando por aqui
passeando pela vida
observando e divertindo-me
de forma quase obscena pela intensidade e profundidade do sentido
só... sem medo... inteiramente livre
é tempo de ser vida... pois sê-lo-ei