quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Prazer da consciência

percebo as inconsistências e fragilidades das razões da humanidade
percebo a loucura a que o ser humano se entrega no seu dia-a-dia
refugiando-se no que cada um entende como as melhores causas pessoais e colectivas
percebo a inevitabilidade da dor a que se condenam pelas condições a que se obrigam
percebo a busca de uma felicidade que julgam distante no espaço e no tempo
sempre a cumprir pela proximidade de outro... tão perdido como ele
percebo o pequeno mundo em que cada um se refugia
senhor e escravo de dores e vontades que os seus desejos permitem
percebo a angústia de quem sente as oportunidades como perdidas e o tempo como escasso...
percebo a cegueira das convicções dos certos e errados a que cada um se condena julgando condenar os demais
percebo que tentar contrariar a loucura é assumir a loucura em mim...

e eu percebo-me suficientemente são de corpo e alma
para não me entregar à doce loucura das razões que alimentam a humanidade
na forma de sonhos e projectos de amor felicidade e liberdade
porque tudo isso... é o que sou
sem precisar de fazer nada ou ir a qualquer outro lugar ou estar ao pé de alguém

na minha breve vida não há nada a cumprir para além de mim...
apenas a possibilidade de partilhar e tornar mais o que em mim e no que me rodeia já é

enquanto for vida
só posso manter-me distante da loucura de que a existência me fizer parte
deixando que os loucos o sejam enquanto o tiverem que ser
reservando-me o prazer da consciência...
apenas pelo prazer...
e só pelo prazer...