terça-feira, 16 de setembro de 2008

Do sonho à realidade

ao longo dos anos
muitas têm sido as ilusões em que me tenho deixado embalar

sonhos de ser e de ter
sonhos de acontecer
sonhos de vontade e de desejo
sonhos de afectos e amores...

sonhos atrás de sonhos
que mesmo quando tidos e vividos como realidade
foram sempre ilusões e fantasias

porque a vida e a idade não perdoam
dou comigo a ganhar consciência de todas as pedras de nada
sobre as quais construí a minha existência

tudo vai caindo à minha volta

percebo que as muralhas em que me julgava protegido nunca existiram
e fico perante uma realidade estranha
que não cola com a dos meus sonhos

exposto
sinto-me nu
perante uma multidão que antes receava poder ver-me...
e percebo que não tenho que me preocupar
porque o que essa multidão de mim vê
mais não é do que a projecção dos seus sonhos
em que o que eu sou ou deixo de ser... é indiferente

é como se estivessem cegos...

tal como sinto que estive a vida toda...

percebo que posso vestir a pele que quiser
percebo que é fácil induzir em erro e projectar ilusões
percebo que posso fazer o que quiser e ficar impune

mas...
percebo que... a realidade é mais do que um jogo
que está para além de qualquer prémio ou vitória
percebo que... restringir a minha existência ao que o meu desejo alcança
é ridículo e absurdo
face a tudo o que ela tem para me oferecer

o receio da perda do que tanto trabalho me deu a construir
dá lugar à constatação de que onde pensava existir o mundo
afinal não existe nada
apenas fantasias e ilusões
sonhos...

encho o peito de ar
e uma sensação de liberdade toma conta de mim
encho o peito de ar
e uma alegria sem razão toma conta de mim
sorrio...
rio-me...

nem o mais bonito dos meus sonhos
me faz aproximar ao de leve da realidade que observo
da realidade que experimento
da realidade em que aconteço
da realidade de que percebo ser parte

já não tenho lugar para o sonho
já não tenho paciência para alimentar fantasias
já não me apetece dar corpo a qualquer ilusão
já nada do que aprendi faz sentido

é tempo de deixar de andar atrás do tempo que imaginava ter
porque... já não tenho tempo
porque... já não há tempo

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