já saí despejado com os restos dos meus estilhaços enfiados num saco de papel
já me partilhei com os lençóis de camas vazias e esquecidas por aqueles que nela descansavam
já me deixei levar pelos lugares da alegria de vidas que se esgotam em entusiasmos fugazes
já aceitei tomar o engano por manifestação dos afectos possíveis
já me dei à ilusão de sentidos ausentes nos gestos e palavras destinados a outros que não eu
já me fiz beijo e abraços na forma dos gestos e palavras que ninguém quis
já me deixei acontecer nas formas que a razão me proibia...
já me prestei a todos os absurdos
já li e ouvi todas as palavras que desmancharam as certezas que escondia nas minhas
já abandonei tudo o que me prendia ao vazio de gente sempre ausente
olho para trás... e sorrio docemente resignado
quase lamentando o desperdício
de mim...
de ti...
de todos os que foram vida comigo...
