todos os dias me surpreendo com os lugares do senso comum da existência
que insistimos em tomar como espaços de afirmação da nossa individualidade
e a partir dos quais entendemos a nossa diferença face aos outros
entendemos ser a vida e a realidade
pensamos os nossos dramas como únicos
umas vezes alardeados aos quatro ventos
algumas vezes transformados em mistérios da humanidade de difícil acesso e entendimento restrito
muitas vezes escondidos de nós até ao momento em que alguém nos coloca uma questão sobre a qual não se pensara
pensamos o nosso amor como a experiência derradeira
umas vezes dado na condição da existência de um retorno
algumas vezes como forma de legitimação de direitos entendidos como adquiridos sobre o outro
muitas vezes como expressão de um desejo não reconhecido em nós de algo que está para lá do que dizemos amar
pensamos a relação com o outro na medida do nosso entendimento do certo e do errado
umas vezes pressentindo afinidades e empatias para lá do que reconhecemos
algumas vezes esquecidos desse outro que não nós
muitas vezes ignorando quem sentimos ser para lá do que acreditamos
pensamos a intimidade como vivência medida e legitimada pelo que consideramos a justeza do nosso desejo
umas vezes considerando o outro
algumas vezes ignorando o outro
muitas vezes sem nos compreendermos sequer
pensamos o outro como medida do que conhecemos
umas vezes deixamo-nos surpreender
algumas vezes rejubilamos pelo que julgamos ser no outro a confirmação das nossas convicções
muitas vezes não sendo capazes de nos encontrar no que julgamos de nós conhecer
pensamos o sonho como caminho para o que não sabemos
umas vezes transformado em refúgio da dor
algumas vezes constituído em meta sempre longe do ponto a que chegamos
muitas vezes esquecidos da realidade para a qual não há caminho a trilhar porque dela não saímos
pensamos a realidade
umas vezes no que sentimos
algumas vezes no entendimento aprendido
muitas vezes esquecendo-nos de a viver de tão preocupados que estamos em pensá-la
conseguimos o feito único que nenhuma outra espécie tentou sequer...
construímos medos dos quais aprendemos a fugir
construímos fantasias atrás das quais corremos
e se na chegada não temos consciência do que faremos
na partida insistimos em acreditar no que não existiu senão em pensamento
apesar da sensação de que alguma coisa nos passou ao lado
porque decidi olhar para essa sensação fora de contexto
fui percebendo que vivendo e existindo não me tinha disso dado conta...
por estar tão entretido a olhar para um tempo antes e depois daquele em que existo
por estar tão entretido com o que não estando onde estou insisto em trazer para perto
por estar tão entretido em fundamentar causas e efeitos do que nunca foi e que a ter sido terá sido de outra forma qualquer
por estar tão entretido com os diferentes sentires efémeros que tentava registar e prolongar ou repetir para lá do momento em que aconteciam
por estar tão entretido em tentar entender o que desconhecia mas que insistia em submeter a uma triagem prévia de acordo com um qualquer preconceito
para escutar tenho que me calar
só depois de fazer silêncio me torno capaz de ouvir e perceber o que até mim chega
e tanto parece haver para ouvir, perceber e experimentar para lá do que pensava
que não posso deixar de dar uma sonora gargalhada pela surpresa da descoberta
http://www.youtube.com/watch?v=MR5xv3pt7KI&feature=user
domingo, 22 de junho de 2008
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