quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Do Desejo fiz Vontade

as palavras não existem
o desejo é uma palavra
o desejo não é desejo
é apenas chamado de desejo...

o desejo é a força que me torna um com o todo
é o que me permite acontecer
sendo no todo continuidade
sem que dele seja parte distinta
uma vez que fora dele não existo

o desejo viabiliza-me enquanto matéria
o desejo viabiliza-me enquanto vida

sem ser o princípio
permite-me o princípio do ser
que mais não é do que um acontecer
para lá de qualquer começo ou fim

e porque me penso vida
princípio e fim
passo a ser os limites do ser que me julgo
fazendo do desejo fim
e do ser que me imagino princípio

esta ordem arbitrária
fruto do muito ou pouco que julgo entender
introduziu uma premissa estranha à existência
que não a altera
mas que faz com que do todo em que aconteço
apenas me dê conta da parte
em que me imagino acontecer

perco a consciência da força que me viabiliza
perco a consciência do todo em que aconteço
porque...
do desejo fiz vontade

de oceano que sou quis-me rio
e para ser rio fiz-me margem
e para ser margem transformei-me em terra
e perdido de encantos pelo que pela vontade criara
aceitei ser gota

esquecido do oceano que sou
vejo-me deserto
esgoto-me na miragem que imagino ser
e sendo água...
acabo por morrer com sede

porque...
da vontade me fiz prisioneiro
porque...
do desejo fiz vontade

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