lentamente
o meu entendimento da existência vai-se diluindo no silêncio
a cada momento
observo a vida descolar-se das palavras que a designam
esvaziando-se o sentido
que com elas e através delas
em mim era tido por garante de efectividade
de entendimento e vivência da realidade
olho para as palavras
e vou percebendo a distância e desproporção
entre a palavra e aquilo que com ela se pretende referir
a palavra que me designa
não esgota a complexidade do ser que de mim e em mim alcanço
só porque a pronuncio
a realidade está tão para além das palavras que a referem
que estas quase se tornam absurdas e inúteis
não nos aproximam da realidade
porque nós não estamos longe da realidade
nós somos parte da realidade
nós somos a realidade
serão quando muito úteis
como registos abstractos da realidade
tidos por facilitadores da comunicação
mas... não são a realidade
são em regra um fraco esboço da realidade
cada vez mais reservo às palavras e ao que delas resulta
enquanto exercício de representação da realidade
num quadro de comunicação que está para além das formas que lhe dão corpo
o valor de sons...
deixando de lado o sentido que lhes aprendi pela razão
de que são afinal a única expressão
as palavras transportam consigo uma espécie de magia
a que apenas os seres humanos parecem sensíveis
tornando-os prisioneiros de formas e sentidos
ao confundi-las com sensações...
ao confundi-las com a realidade...
no meu silêncio
das palavras sentidos
apenas ficam as palavras sons
manifestação tangível
do acontecer da existência
e nada mais que isso...
só assim posso dar-me conta do que oiço
e não do que penso...
domingo, 7 de setembro de 2008
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