Entre o antes e o depois

quando o sentido das palavras se perde na aproximação à realidade
o que delas resulta
(o pensamento)
vai-se esvaziando e perdendo consistência

os objectos que antes davam corpo ao pensar que me movia
desaparecem...

o que antes me parecia cheio
surge-me agora vazio
e o movimento que antes me animava e parecia razoável
surge-me agora absurdo e descontextualizado

enquanto tentei encontrar outras palavras e pensamentos que animassem o meu existir
em substituição dos que deixara cair
dei-me conta de que estava apenas a olhar
para a outra face da mesma moeda

substituía um objecto de atenção por outro...
sem compreender a moeda cujas faces observava

por pensar que entendendo as partes percebia o todo
acabei por dar-me conta que chegava... a lado nenhum
uma vez mais

e foi a partir desse lado nenhum a que chegava
entre uma e outra observação do absurdo
que o silêncio se foi fazendo sentir
entre o positivo e o negativo
no ponto de equilíbrio
entre o antes e o depois

permanecer nesse silêncio passou a ser o desafio
não pelo que nele observo ou experimento
mas pelo que dele no meu acontecer se manifesta...