quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A dança do Passado-Futuro nunca Presente

nem sei o que diga...

quando a minha vida se centrava no passado
e vivia como presente as memórias do que imaginava ter vivido
era frequente olhar para o futuro e colocar questões sobre o que vinha
considerando as respostas pouco apelativas ou promissoras
fossem elas quais fossem

da leitura aleatória do que imaginava premonitório da desgraça
fazia fundamento para reforçar as muralhas
que no presente me permitiam ficar escondido e a salvo
pensando preservar o que receava perder
por julgar perder-me se tal perda se desse

e assim
do sentir presente me escapava o acontecer
entretido que estava com o sofrer por antecipação
do que dificilmente seria face ao que agora também não é
seja porque já foi ou nunca terá sequer chegado a ser

quando a minha vida se centrava no futuro
e vivia como presente os sonhos do que imaginava querer
era frequente olhar para o passado e colocar questões sobre o que já aconteceu
considerando as respostas pouco satisfatórias ou securizantes
fossem elas quais fossem

da leitura aleatória do que imaginava garante da viabilidade das minha fantasias
fazia fundamento para reforçar a busca dos caminhos
que no presente me permitiam continuar a fugir
não do passado mas... do presente
para um tempo cada vez mais distante
pensando no sonho de outros tempos vir a encontrar-me
por julgar perder-me se tal sonho não vivesse

e assim
do sentir presente me escapava o acontecer
entretido que estava com a construção do nada
que dificilmente será face ao que agora também não é

porque de mim me fiz observador
fui compreendendo o meu movimento entre um e outro tempo
imaginando-me acontecer num e noutro tempo
sem critério
apesar das razões que imaginava justificarem-me nessa oscilação

essa observação de mim mesmo
acabou por me levar a fazer as pazes comigo e com o presente
deixando de ser necessário a fuga
para os lugares e tempos da minha memória ou fantasia

compreendi que o passado não pode ser alterado e dele nada resta
o futuro não tem garantias
e o presente... não obedece a condições

por ter compreendido isto
só me resta existir num tempo sempre presente
e o presente não se questiona... vive-se

centrar esta compreensão em mim foi condição para me tornar presente
porque...
enquanto olhei e questionei o que me rodeava
não mudava o que me rodeava nem permitia de mim o acontecer pleno
sem medos angústias ou receios

chegado ao presente
percebi-me só...
porque deixei de me viabilizar na teia de sonhos e memórias
em que todos parecem mergulhados e se parecem afogar segundo a segundo
numa espécie de culto do sofrimento sadomasoquista

o meu sentir e acontecer deixou de fazer sentido para os demais
mas tornou-se gigantesco em mim pela presença na realidade tal como ela é
e não como eu a imaginava
sem certos ou errados

voltar ao universo da razão do absurdo
que não é e se quer num tempo que não existe
torna-se para mim impossível

nessa dança já não sou par disponível...

o que digo e escrevo fala do meu acontecer agora
mas...
não sou o que digo e o que digo não me esgota
quem de mim procurar o entendimento
ou comigo procurar partilhar o caminho do sentir
ou me procura e acompanha no presente...
ou nunca me encontrará

a quem pelo passado ou futuro andar ou me procurar
restarão apenas as memórias ou as fantasias que projectou
onde eu não estou
e onde dificilmente me encontrarei...

quem não me procurar
acabará por me encontrar

um sentir ou afecto
não precisa de razões passadas ou projectos futuros
ou acontecemos com ele no momento em que surge
ou dele perdemos a oportunidade de ser expressão

poucos lerão isto que escrevi
ainda menos compreenderão
e dificilmente alguém terá a coragem de assim viver...
simplesmente livre

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