pediste-me que te escrevesse uma canção
como não o sei fazer
dir-te-ei do que falaria...
falar-te-ia do engraçado das voltas da vida
que tanto nos aproximam como nos afastam
num tempo sem tempo
que nos últimos anos nos levou ao jogo do quero, não quero, mas quero
falar-te-ia do improvável que são as pontes de afecto
que na distância e na ausência se construíram
sem que nos tocássemos a não ser pelo olhar
falar-te-ia do meu e do teu sentir do amor ou da paixão
do ser lindo que és e do entusiasmo que em mim provocas
as palavras que sentimos ávidas no propósito de nos ligar
parecem curtas e escassas para que nelas aconteçamos
e nos cumpramos como a existência parece prometer
apesar de desencontrados
segundo a segundo
vamos deixando cair o que construímos como distância
e abandonamo-nos à ideia de uma nudez inevitável
voltamos por instantes à adolescência que saltámos
quando passámos da infância à idade adulta que vivemos
como se o teu e o meu fado estivesse há muito escrito
não quero cantar-te a canção do vulgar e do comum em que poderíamos cair
nem te direi que gostaria de viver o afecto de uma qualquer forma imaginada
tenho apenas espaço para que se cumpra um amor maior
em que tu e eu sejamos na proximidade um do outro
o que não poderemos ser sendo sós
companheiros de viagem
jamais carcereiros um do outro
e nunca em hipótese alguma...
prisioneiros
prisioneiros de nós próprios
prisioneiros do sentir que nos devia libertar
não sei escrever uma canção
mas se pudesse
seria isto que te diria...
terça-feira, 23 de setembro de 2008
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