quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Testemunha efémera

o aparente movimento constante da existência
envolve-me como uma onda gigante
a que pelos sentidos me prendo

porque pelos sentidos me aprendo
não me consigo distanciar
do que comigo e em mim é acontecer percebido como movimento

fixado num movimento que não o é como o entendo
agarrado a um sentir que me é estranho e no qual me julgo encontrar
construo sentidos
propósitos e realidades
que sendo artificiais porque construídos
são vividos como se o não o fossem
transformando o eterno em efémero
pela experiência a que desse eterno me apego

do céu perco o infinito
e dele só encontro o que nele percebo...
e dele só encontro o que nele aprendi a perceber
as nuvens
o sol
a lua ou as estrelas
que umas vezes me encantam e outras me atormentam
não pelo que são
mas pelo que imagino ser o seu acontecer
ancorado na memória de experiências nem sempre minhas
em regra por outros explicadas

distancio-me do que imaginava movimento
percebo o logro do que pelos sentidos resultava entendimento
e outro sentido se desenha
para o que pelos sentidos me chega

o entendimento deixa de ser a base da minha relação com a existência
porque ela não acontece porque a entendo
porque o que dela possa entender
só acontece antes ou depois de nela acontecer
e...
ou me preocupo com esse entender
ou deixo de me preocupar
e limito-me a acontecer com a existência...
e limito-me a acontecer com tudo o que da existência faz parte
num eterno presente...
num eterno deleite...
de que os sentidos são apenas... testemunha efémera

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