sábado, 24 de janeiro de 2009

A noite não existe...

todas as montanhas que subi
acabei por ter que descer

todos os vales que desci
acabei por ter que subir

todas as distâncias que percorri para me afastar de onde estou
foram as distâncias que tive que percorrer num inevitável regresso à origem

percebo que fiz uma viajem a lugar nenhum
que me deixa no fim
onde e como me encontrava no princípio

a ânsia que julgava do corpo
a fome da vida que os sentidos pareciam não saciar
a razão que colocava longe o que queria perto
foram os enganos que vesti e os caminhos que percorri
longe da consciência do acontecer que protagonizei

no meio do nada
ensaiei movimentos e sons
defini destinos e propósitos
inventei-me em vidas e sonhos
projectei medos e desejos
e...
acabo por dar comigo no meio do nada de onde me imaginava longe

sinto que estive a dormir tempo demais
e que a claridade do dia me vai fazendo despertar

insisto em manter os olhos fechados
tentando continuar a seguir as imagens do sonho que me acompanhou
durante o que aprendi como sendo a vida
mas já não estou a dormir...

já não há montanhas para subir nem vales para descer
apenas uma planície infinita para percorrer por toda a eternidade
iluminada por um sol que entre o nascente e o poente
nunca nasce nem nunca morre

a noite não existe
eu é que insisto em não abrir os olhos
permitindo em mim a escuridão...

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