já não tenho que encher este momento com as ausências de que não dei conta
já não tenho que sair de onde estou na esperança de estar melhor noutro sítio qualquer
já não tenho que inventar um tempo em que aconteça o que neste tempo não acontece
neste silêncio em que sou inteiro...
nada falta
nada quero
de nada preciso
movo-me lentamente por entre as palavras de que se faz o mundo
as mesmas palavras com que até há pouco me entretinha
pensando com elas decidir das matérias da vida...
ainda ensaio a vontade de brincar com esses sons e sentidos
em nome de uma qualquer boa causa
mas a força da utilidade de um propósito
esbate-se na razão de uma existência sem palavras nem razões
de que sou cada vez mais parte e expressão
vou-me calando...
porque tenho cada vez menos a dizer
porque a vida não acontece no que digo
nem se esgota no que faço
cada palavra que aceito colocar no centro da minha existência
é uma oportunidade para a ausência da vida que sou
que acontece num sopro de ar que só eu posso
num sopro que se eu não puder...
ninguém poderá por mim
não há palavras no mundo que substituam ou tornem possível
esse breve sopro de ar que me anima e torna viável em cada momento
não há palavras que valham o sopro de ar que não vivi
entretido que estava... com as palavras que já esqueci
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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