segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Vertiginosamente

olho à volta
e vejo um mundo vestido de medo
com roupas feitas de retalhos de certos e errados
recolhidos na feira das moralidades convenientes
cozidos com as linhas da esperança
de que um dia a vida seja o que não é agora

vejo-lhe a ansiedade na expressão
oiço-lhe a angústia no silêncio das palavras que não diz

olho para mim e descubro-me igual aos demais

dispo-me do medo
deixo de lado os certos e errados com que me tentava cobrir
descubro que há mais na vida do que a angústia a que me possa entregar
vejo a ansiedade desaparecer das palavras com que tentava esconder o silêncio

percebo que a matéria de que sou feito
está cada vez mais longe do entendimento

deixo de falar a mesma língua apesar de usar as mesmas palavras
deixo de me mover no espaço da razão em que os demais se movem

sinto que vou por onde ninguém me pode acompanhar

digo a quem insiste em ficar
que já parti...
para um tempo que é sempre este
para um lugar que é este em que estou
longe do passado e distante do futuro
longe dos lugares da fantasia

já não me consigo fazer ouvir...

desci do comboio do que já foi
desci do comboio do que poderá vir a ser
e apanhei o comboio do presente
que segue... vertiginosamente

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