sábado, 21 de março de 2009

A dor e a tristeza...

o que sinto não me pertence
nem quando faço desse sentir
um sentir que me anima a acção

o que faço é ainda um reflexo do sentir ...

que não sendo meu ainda encontra em mim eco
alterando-me a tranquilidade e o equilíbrio

que não sendo meu ainda encontra em mim barreira
fazendo-me reagir como se a minha reacção fosse determinante de alguma coisa
seja ao nível da minha vida
seja ao nível da existência do que me rodeia

percebo agora esta dinâmica do sentir de que sempre me achei centro...

vou-me distanciando dessa dinâmica
vou-me tornando espectador do sentir que em mim registo
vou deixando de reagir aos impactos do sentir exterior de que me dou conta
a que sou completamente estranho
não o ampliando ou transformando

a dor e a tristeza...
o desejo e a ansiedade...
o medo e a zanga...
todo o sentir que procuro evitar
alterar ou cumprir através do que faço
esperando do que me rodeia as respostas que me satisfaçam
são-me cada vez mais estranhos
são cada vez menos motores da minha vida

percebo em mim mais do que o sentir do que me rodeia...

com este sentir chegam-me a ideia e o pensar de quem de mim faz deles objecto
chega-me a origem desse sentir e pensar

é como se ao entrar cada vez mais fundo no silêncio
encontrasse as linhas invisíveis que cozem a existência
encontrasse as vias que me trazem o sentir e o pensar que até mim chega
que levam o sentir e o pensar que retenho e a que dou corpo
e inconscientemente devolvo...

sinto e antecipo cada vez mais o que está ou vai acontecer...

ainda não consigo deixar de ser barreira ao que até mim chega
ainda não sei bem o que fazer com o que vou vendo...
nem se há que fazer alguma coisa
mas também isso não tem importância nenhuma...

a vida tem um sabor cada vez mais intenso e inebriante...
a vida é cada vez mais uma aventura fantástica...
e eu estou a vivê-la
deixando-me afundar no silêncio

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