segunda-feira, 16 de março de 2009

O entendimento do amor que não vivo

o amor e o entendimento que se tem do amor
não são a mesma coisa
mas são muitas vezes confundidos

o amor sente-se e faz-se no que nele for legítimo fazer
o amor sente-se e vive-se...
é um acontecer em permanência e em presença

o amor que se sente e não se vive
deixa de ser amor e... passa a ser um sentir bonito ou um sonho escondido
à espera de ser um dia vivido
à espera de ser um dia amor por inteiro

se o que faço não acontece com o sentir que é o amor
o que faço nunca será amor
será outra coisa qualquer

o amor se não é a um tempo sentir e acontecer
será ainda amor?

o entendimento que se tem do amor
não é amor...
mas permite a quem nele se refugia
ver o amor (sentir e viver) onde ele não está...
seja numa ideia de amor
seja numa memória revisitada de actos de amor

o amor... ou se sente e vive ou não
o entendimento do amor... permite-me viver como se o amor (por inteiro) lá estivesse não estando

o amor não tem nem conhece a ideia de antes ou depois

no entendimento do amor posso desenhar o que quiser nos tempos da minha fantasia
dar-lhe as leituras que me apetecer
definir-lhe os contornos e as regras que me parecerem certas
agir à luz da moralidade que me for mais conveniente
exigir e esperar do outro o que me der na real gana...
sem que nunca o amor aconteça e esteja efectivamente presente

o amor que não se vive enquanto se sente
o amor adiado...
obriga a aceitar a ideia do meio amor...

o meio amor que já não é amor por inteiro
é o terreno em que floresce a dor e se cultiva o sofrimento no presente
é aceitar a ausência como presença
é confundir o designado com o designante
e com tudo isso ficar satisfeito

o amor condicionado seja porque razão exterior for...
já não é amor
é só uma ideia de amor
porque se não se condiciona o sentir
condiciona-se o viver...
e aceitar esta ideia
é aceitar o amor pela metade...

o amor liberta
o entendimento do amor... aprisiona

não me preocupa o entendimento que do amor alguém possa ter
seja do meu ou do seu...

o amor que não puder sentir e viver
também não procuro substituí-lo pelo que dele entender
porque tentar viver de acordo com o seu entendimento não o tornará efectivo
nem nunca fará da ideia de amor... o amor que não acontece por inteiro

onde é suposto acontecer o amor é suposto estarem dois
mas olho para o lado... e não encontro ninguém
encontro a existência...

percebo-me livre do entendimento do amor
do meu e do dos outros
e não posso deixar de sorrir...
quando vejo o amor esgrimido nas palavras de quem dele julga ter algum entendimento
assumindo como presente o que está ausente

o amor que não sinto ou não vivo...
o amor adiado...
o amor que não acontece em permanência e em presença...
já não será amor
mas apenas o entendimento do que poderia ser o amor
em que actuo como se ele acontecesse por inteiro... não acontecendo

o amor enquanto sentir não será difícil...
mas vivê-lo por inteiro... não parece ser para todos

respeito quem procure substituir o amor por um qualquer entendimento
mas não posso, não quero, nem sei...
viver no entendimento que do amor os outros possam ter

o amor que não puder sentir e viver
não irei procurar substituir por entendimento nenhum do que é o amor que não sinto ou não vivo

com muito amor... cada vez mais silêncio

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