oiço na voz de quem me fala de tudo e de nada
o lado que julga escondido e não diz nas palavras que usa
vejo no que se mostra o que se procura manter longe da luz
com medo da nudez que não se aceita em si e teme em si mesmo conhecer
sinto na pele a ausência do toque que alguém ensaia em pensamento
receando não o que irá encontrar mas o que receia poder não sentir
cheiro o medo da vida longe da fantasia
nos mais requintados perfumes com que se procura afirmar uma identidade que se receia não ter
consigo saborear os paladares da realidade que se esconde no artifício das intenções
como se o que a existência oferece precisasse de ser apurado...
aperfeiçoado...
descubro em tudo as memórias esquecidas que ditam o agir de quem dorme
na forma de resposta a uma pergunta que ninguém se lembra de ter feito
já não sou o que mostro nem o que escondo
e muito menos o que me lembro ou já esqueci nos gestos que repito
distancio-me dos códigos da razão que para tudo me dá um sentido
e torno-me a vida que todas as razões do mundo não conseguem ser
nem quando lhes empresto o meu sentir
já não me prendo ao que me procuram mostrar ou esconder
já não me prendo ao que nos gestos cegos se recorda ou esqueceu
a razão ganhou em mim uma nova vocação...
permitir ao silêncio o grito que nas minhas palavras se faz sentir