sexta-feira, 5 de junho de 2009

A vida dos limites

a existência deu-me a vida e anunciou-me a morte
deixando-me a oportunidade que duma fizesse o que entendesse...
e da outra...
permitiu-me apenas que tomasse consciência

não desejo nem procuro evitar nenhuma das duas
não lhes tento definir os contornos nem os tempos em que acontecem

deixo que a vida aconteça
entre os desenhos que quem me rodeia para si e para o mundo traça
e o que sendo vida não se define nem antecipa
limitando-me a ser a parte que sou
cada vez menos expressão da vontade que fui
cada vez menos reflexo do que de mim alguém possa esperar

a vida deu-me a experiência da dor e do prazer no corpo que me abriga

a vida deu-me a oportunidade da experiência do prazer do amor e da dor do desamor
no sentir de que me fez capaz na relação com o que me rodeia

a vida permitiu-me a ideia da felicidade e ofereceu-me a dor da perda
ao dotar-me do entendimento que me permitia o sonho e o medo
na tentativa de satisfação dos desejos que do mundo em mim aprendi

a vida ofereceu-me a frente e o verso de tudo o que existe
deixando-me o direito de decidir qual das partes escolhia ver
e percebi que a dor era tanto maior quanto mais tentava fixar-me no prazer...
até que deixei de tentar as partes que a vida me permitia e eu conseguia nomear

procurei o todo que a vida em mim não permitia alcançar
e dei por mim a ultrapassar os limites da vida
chegando a um lugar de que todos fazem parte e em que ninguém se encontra

a vida que sou nos limites do mundo que se entende
já não tem os limites do sonho e do medo
já não tem os limites do que se possa tomar por certo ou errado
já não tem limites...

percebo todos os limites de que a vida se veste
percebo todos os limites do que se entende ser a vida
mas... já não me reconheço em nenhum deles