domingo, 6 de dezembro de 2009

As formas e o corpo do meu entendimento

carreguei as respostas da humanidade
pensando com isso garantir a vida que delas me ensinaram depender...

encantei-me com a ideia de possuir um saber de reconhecida importância
encantei-me com a ideia de que o meu agir na ilustração e afirmação de tal sapiência poderia fazer a diferença
encantei-me com o reconhecimento vazio que os mais condescendentes entendiam generosamente dispensar-me
encantei-me com o meu próprio encantamento
inchei tanto que de tanto encantamento sentido
acabei por me esquecer da vida que sou por deixar de ser capaz de me ver...

mas todos os espelhos da vida me devolviam uma imagem que todos os encantamentos e encantados reconhecimentos não escondiam...
era uma imagem em que não se cumpria nenhuma das respostas da humanidade que tão zelosamente carregava...

percebi que as perguntas que tais respostas justificavam se perderam
entre o que o alcance da memória permite e o medo de uma vida sem respostas anuncia

percebi-me tolo... que desperdício!!!
sacudi a poeira dos ombros imóveis por tempo demais
prisioneiros das questões que não coloquei
e mergulhei numa existência sem dúvidas
feita de afirmações sem propósitos nem tempo de validade

redescobri-me numa realidade distinta de que me recuso a sair...
aceito viver todas as respostas sem carregar nenhuma
as afirmações da vida... que se desenhem na acção do que me rodeia como sempre aconteceu
eu... deixei de lhes tentar dar as formas e o corpo do meu entendimento