domingo, 27 de dezembro de 2009

Retorno

o frio deste silencio matinal acorda os sentidos adormecidos
agitados pelo som furioso do badalo de sinos próximos
que me gritam as horas que me cortam o sono
obrigando-me a mergulhar na água gelada o corpo ainda cansado

afasto o frio de forma audaz
visto-me do preto que o céu cinzento ameaça sem cumprir
e saio para os lugares do silêncio timidamente quebrados sem sucesso
por homens sempre de passagem
agarrados aos ruídos da sua estima
que os conduzem voraz e impiedosamente a caminho do lugar nenhum que conhecem

sinto-lhes os gritos de dor e de medo das almas aflitas
prisioneiras de uma viajem que não escolheram e em que não se sabem
perdidas entre gestos e rituais ancestrais
repetindo palavras cantadas num murmúrio abafado
que perderam a sua magia e encanto libertador

os sorrisos beatos e as expressões de êxtase religioso
anunciam o retorno breve às grades das certezas a que se aprisionam

eu... passeio por entre estes ruídos
tentando perceber aqueles que são meus...
deixando que o silêncio deste lugar me invada
procurando a oportunidade de me confundir com ele