segunda-feira, 16 de junho de 2008

A ilusão dos limites

quando penso no que responderia se me perguntassem quem sou
percebo que o que de mim refiro tem que ver com os limites que em mim entendo

quando penso no que responderia se me perguntassem quem é que eu entendia que alguém era
percebo que o que do outro refiro tem que ver não com os seu limites
mas com os limites que em mim se definem na proximidade do existir desse outro

quando digo sim ou quando digo não, defino um limite
quando entendo o certo e o errado, o bom e o mau, o bonito e o feio, defino limites
quando reconheço a felicidade ou a tristeza
quando me entrego ao amor ou ao ódio
quando defino e vivo o que quero ou o que não quero...
defino os limites do que penso ser

todo o pensar tem um objecto e como tal tem um limite

e ao fim deste percurso pela vida percebo que estes limites oscilaram sempre
nunca nenhum deles permaneceu constante...

mas existe um lado meu que sinto constante
o lado que observa a inconstância
o lado que permanece para lá do limite que julgo ser e cujo limite não se define
cujo limite não consigo definir

e ao fim deste percurso pela vida vou deixando de me preocupar com o que penso que sou
vou deixando de me preocupar com os meus limites, com a sua afirmação ou exercício

dos limites em que tropeço apenas tento perceber que existem em mim
observá-los atentamente e deixá-los desaparecer
como desaparecem todos os pensamentos a que não me agarro
porque percebi que só são e existem enquanto eu os viabilizar

e ao fim deste percurso pela vida descubro que a vida é feita de ilusões
do exercício de limites que são sempre os meus
e nunca os do que me rodeia

viver na ilusão dos limites...
só se não me der conta deles

e o silêncio em que me descubro torna-se mais doce a cada limite que desaparece

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