quarta-feira, 16 de julho de 2008

Palavras

(Palavras dos Silêncios Meus)

vivemos num mundo de palavras

aprendemos o mundo através das palavras

aprendemos a confundir a realidade com as palavras que utilizamos para a designar
e acabamos por esquecer a realidade, ficando-nos pelas palavras, como se estas a esgotassem

aprendemos a confundir o sentido (o que se sente) com o significado
tomando uma por sinónimo da outra, mesmo não o sendo

as palavras passaram de referentes da substância a substância
perdendo-se, gradualmente, a consciência da experiência do referido

persistir neste procedimento leva-nos a valorizar, na experiência da realidade
o que é passível de menção, partindo do nosso reportório limitado de designantes
tentando fazer do mencionado, a um tempo, forma, sentido e substância

já não conseguimos olhar para a existência
deixá-la acontecer ou deixar-nos acontecer nela
sem nos impormos uma designação a que nos vinculamos
como se a designação da realidade fosse o propósito último da sua experiência

as palavras acabam por surgir como chaves que abrem as portas que construímos em paredes que erguemos à nossa volta

das virtudes e dos defeitos que se lhes associam, diz-se que
umas vezes protegem-nos
outras aprisionam-nos

não sendo senão palavras
as palavras são mais resistentes que o mais resistente dos materiais
sendo ao mesmo tempo a mais frágil das barreiras

o que lhe dá força, também lhe tira consistência

uma coisa é certa
nem juntando todas as palavras do mundo, em todos os idiomas
estas conseguirão, por um segundo que seja
ser o segundo da realidade ou da existência a que se reportam

palavras serão sempre, apenas e só, palavras

pelo sentido (o que se sente) a sensibilidade é possível
e o sentimento acontece, tornando-me centro da minha existência

pelo significado esgoto-me na palavra com que designo
e perco-me num mundo de ninguém que se pretende de todos
num tempo que vem antes ou depois, mas nunca é agora

por isso digo...
já não vou atrás das palavras

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