domingo, 5 de outubro de 2008

A distância

cada vez mais próximo da consciência da existência
os sentidos calam-se e perdem-se
para dar lugar à realidade
em que o sentir se consubstancia pela proximidade do que é presente
sem espaço para o desejo do que é ausente
em que a força que dita o meu acontecer
me aproxima e afasta do acontecer dos outros
nunca os que eu quero
mas os que por via do seu e meu sentir nos torna presentes
umas vezes próximos e outras afastados

ao tornar-me consciente do sentir constante que faz a minha existência
compreendo que os meus limites se aproximam do infinito
compreendo que em mim
o espaço para o outro é ilimitado e não obedece a condições
mas compreendo que o espaço limitado
e as condições que o outro em si estabelece
lhe definem sentidos em que a minha presença não faz sentido
ou a distância não existiria e a presença seria efectiva

porque sou sentir presente
para lá dos sentidos que a razão dos outros entende
só me resta ficar onde estou
até que alguém se liberte dos sentidos que em si e nos outros imagina
permitindo-se ser sem tempo, limites ou condições
deixando que o sentir que o anima e define
se encontre e aconteça com o meu
num único agora
num espaço sem distâncias

as distâncias que imponho na minha relação com o que me rodeia
serão as distâncias que terei que percorrer
se ao que me rodeia quiser voltar a aceder

e eu continuo no mesmo lugar
esperando por esse acontecer
sem medos nem angústias
só...
ainda que acompanhado

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