sábado, 25 de outubro de 2008

O ponto médio

nos caminhos do meu silêncio
vou compreendendo que as dinâmicas da existência
não me colocam no papel de decisor
nem me reservam a postura de observador passivo da realidade...

a única coisa que posso fazer é ser essa realidade
ser liberdade
ser amor e felicidade em permanência
depois de neles me reconhecer
ou ser deles eterno “buscador”
porque deles insisto em permanecer ausente

e nesse ser e acontecer constante
sendo de mim mesmo fruidor
acabo por me tornar expressão da afirmação da vida que sou com o mundo
dando-me não porque é essa a minha vontade
mas porque da vontade abdicando
de mim deixo de ser expressão
para dos outros me tornar reflexo
tornando-me com eles todo

nesse reflexo me encontro com o que não se sabe reflectido
e querendo ou não querendo
o amor revela-se na tangência entre um e outro

nesse momento único que me permite olhar o amor
enquanto do amor sou parte
o tempo pára...
e só volta a correr quando me fixo no que em mim se reflecte
ou no que do outro sou reflexo
saindo do ponto médio em que o amor é possível

e quando o tempo em mim corre e eu nele me deixo arrastar
só tenho e resta aquilo em que acredito e enche os rituais da minha vida
ecos do momento único em que fui amor
mas que não são amor

pacientemente observo-me

deixo que as transformações em mim aconteçam
que mais não são que o cair das barreiras do que tenho por certo ou errado
e a partir das quais moldo o meu desejo e a minha vontade
sem que nada mais se construa no seu lugar

e chegado ao ponto em que o tempo deixa de existir
tudo deixa de existir...
uma nova oportunidade de ser vida com a vida acontece

a liberdade
a felicidade ou o amor
não são condição ou meta...
são apenas... o meu acontecer com a existência

uma vez encontrada em mim esta existência...
não é possível voltar atrás...
não saberia como fazê-lo

depois de me ser dado o dom de ver... não me peçam que escolha ser cego

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