o amor é uma eterna miragem
mesmo quando acredito amar
porque quando dele julgo ter ou viver a experiência
nele não me consigo manter
sem resvalar para o desejo do outro
desejo cujo cumprimento julgo ser garantia da continuidade do sentir
cujos contornos se afastam do indefinido que esse sentir é em mim
para se confundir com o rigor das razões que penso entender
em mim e nesse outro que desconheço
e insisto em ignorar para além do que dele desejo
do sentir que tudo parece permitir e viabilizar na proximidade do outro
passo aos argumentos que penso que me dão legitimidade
para fazer do que julgo ser permitido um direito
e da viabilidade na proximidade do outro uma condição que do outro cobro...
em nome e como expressão do amor que digo sentir
tudo isto me surge legítimo e razoável
em nome e como expressão do amor que julgo em mim reconhecer
que penso no outro reconhecer
mas... não me apercebo que mudei de registo
procurei a satisfação do desejo e acrescentei-lhe a expectativa
em que se funda a razão que entendo e quero universal
ou pelo menos penso e quero que sejam as mesmas do outro
o sentir até será universal
o desejo a satisfazer... umas vezes sim outras não
as expectativas... raramente coincidem
mas a razão... é absolutamente particular e não coincidente com a do outro
perdido no emaranhado de desejos
expectativas e razões em que me fixo alternadamente
distancio-me do sentir que recordo e não quero perder
porque desse sentir saio
o engano começa a desenhar-se
o engano não está no que o outro faz ou deixa de fazer
mas na atenção que passo a dar a esse desejo
expectativa e razão particulares em mim
que confundo com o amor sem disso me dar conta
e à luz dos quais me vejo e vejo o outro
tendo da dor o registo sem do engano me aperceber
porque as diferenças fora do sentir não consigo não posso nem sei evitar
perco-me
tento o desejo
mas o amor não é desejo nem quando este se cumpre da forma mais extraordinária
tento a expectativa
mas o amor não acontece nem na melhor das expectativas viabilizadas
tento a razão
mas o amor não se torna sentir nem que junte e atenda a todas as razões do mundo
se ao meu engano juntar o engano do outro
com quem o amor me parecia oportunidade
nem que dos meus desejos
expectativas e razões abdique
procurando das do outro ser expressão
me aproximo mais do amor que procuro e lembro ter sentido
a consciência de tudo isto fez-me concluir
que quando o amor se transforma em dor
já não é amor... é engano
e a pergunta surge...
o que fazer então?
persistir no engano e na dor porque deles não sei sair para ao amor voltar
ou...
os outros... não sei
eu... vou voltar ao sentir em que me descobri amor
na tangência entre o antes e o depois
em que não há antes nem depois
em que por vezes até se cumprem os desejos que me dão forma
em que as expectativas e a razão não encontram poiso
nem as minhas nem as dos outros
em que a vida se faz de presenças
no lugar em que estou e aconteço
e em que as ausências se aceitam
não se evitando nem se procurando
deixando que outra qualquer possa ser a expressão maior
do sentir que a todos nos parece mover
mas poucos parecem compreender
forçar as vivências que imagino que me irão garantir o sentir em causa
é persistir no engano
é aceitar e correr atrás da dor
sem nunca voltar ao amor
e aí... eu não estou
por aí... eu não vou
não é uma despedida...
é um repor da ordem natural das coisas
fora das quais já não sei acontecer
sábado, 15 de novembro de 2008
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