sábado, 22 de novembro de 2008

No fim... apenas o amor

cheguei ao tempo sem tempo
do silêncio fiz caminho
no nada me encontro
da liberdade me descubro corpo
na felicidade desenho o meu sorrir
e pelo amor acedo aos segredos do universo
que tudo me dando
nada me permite

a experiência é tão intensa que é impossível evitar o desejo
não me entregar ao sonho
não cair na tentação de tentar repetir o que só pode acontecer e acontece uma só vez

cada vez que ensaio o cumprir da vontade de que me descubro capaz
que do amor faz propósito
acabo por chegar a lado nenhum
sem que me aproxime do que imagino querer
quanto mais não seja porque do amor que procuro
me aceito parte distinta e distante

porque não entendo o que não decorre do entendimento
construo uma razão cheia de razões
que falando do amor nunca são amor
que falando da vida nunca são vida

construo uma razão
que nas respostas que constrói às perguntas que pela razão não se respondem
me afasta do sentir que procuro
e me condiciona e condena ao artifício daquilo em que acredito
sem ao amor me fazer chegar

porque muitos são os que fazem o que faço
convenço-me que este é o caminho
e aceito percorrê-lo tomando-o por bom

o lado nenhum a que chego
atribuo-o a razões e fados
que colocam em mim o ónus do resultado
sem que que à razão que sigo saque responsabilidades
limitando-me
na melhor das hipóteses
a substituir uma razão por outra razão

entretido e perdido em razões sem fim nem razão
perco do amor a experiência e a oportunidade no contínuo que sou
uma vez que de onde estou não me posso ausentar sem ser pela fantasia
uma vez que fora do que aconteço não posso acontecer nem que à fantasia recorra

lentamente percebo
que o amor acontece quando eu aconteço
se faz no que eu faço
e se canta no que eu digo
em que o desejo
os sonhos e as vontades
ou as razões que eu invento
acontecem depois e nunca antes ou ao mesmo tempo que o amor
em que a presença destes só atrapalha
lançando-me sempre para um tempo em que o amor não se vive
mas revê ou antecipa em sonhos
que sendo sobre o amor não são o amor...
nem o garantem

perceber-me amor faz-me deixar cair o artificial em que me tornei não o sabendo

um mundo novo é-me oferecido

um mundo em que tudo me é permitido experimentar

todos os desejos me são saciados
todas as explicações me são dadas
todas as vontades me são satisfeitas
só não me sendo permitido...
o exercício da razão

é-me oferecido o entendimento
é-me permitida a consciência do amor do mundo em mim
em troca...
só tenho que desistir da razão
só tenho que aceitar a vida e crescer
sem antes nem depois

da razão... vou desistindo
a vida... vou aceitando
e vou crescendo num só tempo

o entendimento torna-se possível

o amor torna-se luz
e com o amor me descubro chama...
frágil...
mas definitivamente chama

o entendimento deixa de ser necessário

no fim...
apenas o amor

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