quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O tempo do tenho que...

não quero nada
não desejo nada

o meu pensamento para pouco mais longe vai do que o momento em que estou...

já quase não olho para trás

descontraio o corpo

o que oiço vejo e sinto
altera-se pela ausência de sentidos atribuídos

sinto-me lançado num silêncio cada vez mais fundo
e em mim desconhecido
registo sentires que não reconheço como meus
as conversas transformam-se em sons
os gestos e as expressões dos que me rodeiam
falam-me para além do que me dizem ou procuram que entenda

sinto-me de uma transparência que se faz notada pela ausência
do que até agora era tido por presença

sinto a vida acontecer ao ritmo da minha respiração

olho para o meu presente e apercebo-me do absurdo da minha vida
não por sentir que outras pudessem ser as rotinas ou as condições da minha existência
mas porque sinto que tudo está deslocado e fora de sítio
porque me sinto deslocado e fora do lugar
de acordo com uma razão que ninguém percebe em si
de acordo com uma razão que não consigo validar em mim

tenho que sair do caminho das escolhas
tenho que deixar de olhar para o momento seguinte
tenho que deixar de olhar para as experiências vividas e a elas ficar preso
tenho que aceitar da vida mais do que o receio e menos do que o desejo
tenho que deixar que a vida siga sem tentar condicionar-lhe o rumo
tenho que sair da virtualidade em que aceitei transformar a minha vida

mas...
o tempo do tenho que... vai chegando ao fim

Sem comentários: