sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Já agora... Amo-te

olho as pessoas com quem me cruzo
e revejo-me num tempo em que estivesse onde estivesse
vinha sempre de algum lado a caminho de outro lado qualquer
sem tempo para estar no tempo e no lugar em que estava

deixo de saltar o tempo
e sem nunca contrariar a existência
encontro em mim a possibilidade de ir para além da razão e das palavras
com que construo o que entendo por vida

compreendo que o amor, a felicidade e a liberdade não são afinal efémeros
como pela razão julgava e aprendi...

a única coisa efémera na existência é mesmo a razão
porque só subsiste enquanto eu assim o entender
sejam quais forem as razões que o mundo me apresente
o que faz com que a razão e coisa nenhuma acabem por ser a mesma coisa

distingo o amor, a felicidade e a liberdade
do desejo, do sonho e da vontade
porque os primeiros são afirmação
e os segundos... o reconhecimento e aceitação da ausência dos primeiros

o amor, a felicidade e a liberdade... permitem a vida

o desejo, a vontade e o sonho só me permitem os hábitos e as rotinas
que aceito como manifestações conhecidas da vida

os primeiros fazem da minha existência uma aventura que vale a pena ser vivida

os segundos... garantem-me as respostas às perguntas que não formulei
fazendo da minha vida o cumprir de um percurso conhecido e seguido por todos
cujo fim me é continuamente mostrado e apresentado como garantido
como razão para fazer da morte uma preocupação do meu presente
e da minha vida um projecto adiado de futuro

percebo-me agora amor, felicidade e liberdade

percebo que a sê-lo com mais alguém
só posso sê-lo com quem for presente
com quem consiga abandonar a memória e o sonho
tal como aceitei fazer...

percebo que a única coisa que me pode impedir de ser e estar presente é a razão
que quando não é minha é dos outros
e se a aceito nos outros... reconheço-a como minha

a razão lança-me para a discussão de causas e consequências
para o que julgo ter-se passado antes e o que imagino poderá vir a acontecer
fazendo-me culpado com efeitos retroactivos e com pena suspensa ou em liberdade condicional
fazendo-me receoso do que por antecipação imagino que irei sofrer
conseguindo fazer com que nunca aceite e tente evitar a vida tal como ela é
obrigando-me a fugir para um tempo que é sempre outro
impedindo-me de ser e estar onde estou
inviabilizando-me enquanto manifestação consciente do amor
da felicidade e da liberdade

por muito bonitas e gratificantes que sejam as memórias dos actos de amor que vivi
elas já não são esse amor...

por muito bonitos e empolgantes que sejam os sonhos de manifestações futuras de amor
que espero vir a viver
eles não são o amor que alguma vez terei vivido
nem aquele que agora acontece ou é possível experimentar

o amor, a felicidade e a liberdade não se podem confundir com os actos que lhes aprendi como expressão

o amor, a felicidade e a liberdade
vivem-se...
partilham-se...
posso deles ter consciência...
e isso só é possível porque estou e aconteço num só tempo...
aqui e agora
seja onde for
seja quando for
sem antes nem depois
sem estar de passagem pela vida
vindo de um lado qualquer a caminho de um qualquer lado

já agora... amo-te

não sejas espectadora da tua própria via

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