terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os fins já não fins...

sempre que a vida me colocava numa trajectória em que um qualquer fim se desenhava ou antecipava
entrava num estado de ansiedade insuportável
em que a urgência do fim se impunha
por oposição a uma dor que se adivinhava e receava nesse fim
fazendo-me balançar e tentar evitar o que parecia e sentia inevitável como contenda

olho para todos os fins que vivi
os que promovi e os que aceitei por vontade dos outros
e com a distância que o tempo permite
compreendo que nunca existiu urgência
como nunca nada se impunha de facto

compreendo agora o absurdo da dor e do receio
que me fazia hesitar e adiar o que me surgia insuportável e impossível de resolver a contento

compreendo finalmente que o que entendia por fim...
mais não era do que a existência a virar mais uma página
a seguir o seu rumo imparável
ignorando as minhas razões e convicções
os meus projectos ou desejos
e tempos de resolução do que julgava um problema incontornável e definitivo

em todos os fins que vivi
o único medo sentido foi o que senti antes do fim vislumbrado

a única dor que senti foi a que senti antes e depois do fim
e a que a razão me obrigava pela ideia de perda
ou possibilidade de concretização de todos os meus medos

o único fim que com o tempo acabou por acontecer
foi o fim da sensação de urgência, do medo e da dor
foi o fim da ideia de que um fim se impunha

a vida não acontece porque a desejamos ou a sonhamos de uma dada forma...
a vida acontece... simplesmente
sem certos nem errados
sem direitos ou deveres
sem réus ou juizes ou ideias de culpa formada
ou de penitências regeneradoras a cumprir

os fins deixaram de existir para mim

passei a aceitar a vida como ela me chega
em que as alterações observadas são aceites como manifestações contínuas da vida
nunca sendo entendidas como fins
mas como mudanças da realidades em presença
da qual faço parte e da qual não me diferencio
pela consciência que de mim e do que me rodeia vou tendo

neste momento da minha vida
os fins já não são são fins
são apenas um novo acontecer que se desenha a cada momento
na completa ignorância do que aconteceu no momento anterior
na completa ignorância do que irá acontecer no momento a seguir

o medo, a dor e a urgência deram lugar à tranquilidade
deram lugar ao silêncio que percorro na forma de amor
da felicidade e da liberdade...

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