sábado, 20 de dezembro de 2008

No limite... sou silêncio

todos os dias acordo e dou-me conta do extraordinário da vida que vivo
momento a momento
sem saber o que vai acontecer a seguir
que tanto pode ser o que admiti fazer na véspera ou na hora anterior
como pode ser o que me surge e aceito como desafio inesperado e colocado em cada momento
fora de qualquer hipótese de previsão ou antevisão

apercebo-me do medo que esta forma de estar transporta consigo
pela possibilidade de ver a vida a ganhar uma expressão pouco simpática
da qual poderei não saber encontrar a saída
pela impossibilidade de garantir o que alguma vez terei sonhado

timidamente vou-me entregando a esta aventura do agora
e descubro que existir sem um antes nem um depois
não me faz cair no precipício que receava

a observação e respeito pelas sensações que os sensores de que sou dotado me dão
parecem garantir-me a justeza da acção em que me viabilizo
no caminho que percorro momento a momento
como se uma rede invisível me amparasse e garantisse a sobrevivência
deixando-me livre do medo e inteiramente disponível
para... dar expressão ao amor, à felicidade e à liberdade que percebo ser

compreendo a força e o poder desta forma de existir
pelo que sinto em mim
em que o mundo me surge para além dos filtro dos meus medos e convicções
pronto para ser desfrutado
mais do que para ser conhecido

o meu corpo dá-me a indicação do que tenho que fazer para ser viável enquanto matéria
o meu desejo diz-me o que está ausente e deveria estar presente
a minha vontade permite-me conduzir o meu corpo para a proximidade do que o meu desejo diz estar em falta
o meu sentir e o meu afecto garantem-me que estou onde tenho que estar
que o desejo cumprido é o que se impõe e que o meu corpo faz parte dele
de uma forma harmoniosa e plena

o que em mim regista o mundo passa a ser o que me permite tocar esse mesmo mundo
o que me permite relacionar com ele

e dessa relação de amor se forma a compreensão da existência em que aconteço...

momento a momento vou deixando cair os certos e os errados
deixando cair com eles os medos que a partir deles construo
e que me travam na participação activa da vida que só eu posso viver

momento a momento vou desistindo dos projectos que julgo que me defendem
numa contenda de que não conheço a origem e as causas
e menos ainda o adversário

momento a momento vou esquecendo as condições e os compromissos
que estava convencido que me iriam garantir a efectividade dos sonhos
que quis viver um dia...

momento a momento...
só me resta viver o que em mim é finito
cada vez mais perto e consciente do eterno
porque não me esgoto no limite em que me reconheço
porque no limite... sou silêncio

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