quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Valeu a pena

sou um privilegiado...
ao longo da minha existência foi-me permitido experimentar o amor
por mais de uma vez

comecei por o tratar com o desprendimento e a desatenção próprias da juventude

no momento seguinte aprendi-lhe os sinais em mim
e aceitei-o como motor de mudança e transformação
da minha forma de ser e estar

não o compreendi...
mas percebi que tinha que deixar que a minha vida seguisse a par desse sentir único
esperando que os seus mistérios e segredos me fossem revelados
fazendo-me ver o que sentia haver para saber

tornei-me observador convicto e paciente de mim e do amor que me era dado sentir

quanto mais funda era a minha observação e entrega
mais me afastava das razões que o amor não condenando
não sancionava...
na melhor das hipóteses parecia insistir em ignorar

aceitei deixar cair a razão...
com tudo o que ela defende e segura
e percebi a fragilidade dos certos e dos errados
a parcialidade e o absurdo da moral
que por causa dos costumes tidos por bons
fazem com que uns se sintam bem
ao mesmo tempo que faz com que outros se sintam mal

percebi na razão a sua capacidade de transformar um sentir que liberta
pela plenitude alcançada
numa teia opressora e sufocante

compreendi que as dinâmicas que o amor gera em mim
só me afastam dele...
se não pela razão
pelo menos pelos hábitos em mim instalados

teimosamente insisto em não perder de vista o amor

às razões que antes tentava combater
dou agora cada vez menos atenção
já percebi que elas não são minhas
e apesar de as conhecer e de lhes reconhecer a força
não têm mais consistência do que uma nuvem no céu

aceito o amor como um sentir que não se explica ou condiciona
no qual posso acontecer
permanecer e ter dele consciência

descubro-me amor e aceito-me amante

sinto-me privilegiado...
porque me foi dado experimentar o amor vezes sem conta

sinto-me grato a todos os que amei e se deixaram amar ao longo da minha vida

uns deixaram de fazer parte dela e perderam-se no tempo e no espaço
outros permanecem com novas valências de afecto e amor

se não vos tivesse amado como vos amei
não poderia viver o amor como hoje o faço
não poderia viver o amor que vivo

o amor que faz com que o eu que fui
se perca no acontecer em que sou amor com a vida
de que o meu corpo é apenas uma das suas muitas formas
de que a minha existência é apenas uma das suas muitas manifestações

valeu a pena ter feito a caminhada que fiz
quanto mais não fosse para te poder dizer hoje
com a segurança de quem sabe e tem a consciência do que diz
...
eu amo-te

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