sou um privilegiado...
ao longo da minha existência foi-me permitido experimentar o amor
por mais de uma vez
comecei por o tratar com o desprendimento e a desatenção próprias da juventude
no momento seguinte aprendi-lhe os sinais em mim
e aceitei-o como motor de mudança e transformação
da minha forma de ser e estar
não o compreendi...
mas percebi que tinha que deixar que a minha vida seguisse a par desse sentir único
esperando que os seus mistérios e segredos me fossem revelados
fazendo-me ver o que sentia haver para saber
tornei-me observador convicto e paciente de mim e do amor que me era dado sentir
quanto mais funda era a minha observação e entrega
mais me afastava das razões que o amor não condenando
não sancionava...
na melhor das hipóteses parecia insistir em ignorar
aceitei deixar cair a razão...
com tudo o que ela defende e segura
e percebi a fragilidade dos certos e dos errados
a parcialidade e o absurdo da moral
que por causa dos costumes tidos por bons
fazem com que uns se sintam bem
ao mesmo tempo que faz com que outros se sintam mal
percebi na razão a sua capacidade de transformar um sentir que liberta
pela plenitude alcançada
numa teia opressora e sufocante
compreendi que as dinâmicas que o amor gera em mim
só me afastam dele...
se não pela razão
pelo menos pelos hábitos em mim instalados
teimosamente insisto em não perder de vista o amor
às razões que antes tentava combater
dou agora cada vez menos atenção
já percebi que elas não são minhas
e apesar de as conhecer e de lhes reconhecer a força
não têm mais consistência do que uma nuvem no céu
aceito o amor como um sentir que não se explica ou condiciona
no qual posso acontecer
permanecer e ter dele consciência
descubro-me amor e aceito-me amante
sinto-me privilegiado...
porque me foi dado experimentar o amor vezes sem conta
sinto-me grato a todos os que amei e se deixaram amar ao longo da minha vida
uns deixaram de fazer parte dela e perderam-se no tempo e no espaço
outros permanecem com novas valências de afecto e amor
se não vos tivesse amado como vos amei
não poderia viver o amor como hoje o faço
não poderia viver o amor que vivo
o amor que faz com que o eu que fui
se perca no acontecer em que sou amor com a vida
de que o meu corpo é apenas uma das suas muitas formas
de que a minha existência é apenas uma das suas muitas manifestações
valeu a pena ter feito a caminhada que fiz
quanto mais não fosse para te poder dizer hoje
com a segurança de quem sabe e tem a consciência do que diz
...
eu amo-te
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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