quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O corpo que não penso

ainda deitado no escuro... acordo
o meu corpo reclama mais uns momentos de repouso
e já o meu pensamento corre veloz atrás do que entende ter por objecto
umas vezes sonhos de bem estar
outras vezes preocupações e questões eleitas ao acaso
muitas vezes zangas a cumprir numa agenda sem tempos

já acordado
o meu pensamento fez-me correr distâncias e viver experiências
que o meu corpo continua a ignorar
entregue a uma dinâmica que só ele reconhece como certa

vencido
o meu corpo aceita entregar-se às rotinas que lhe estão reservadas
continuando a ignorar os espaços percorridos pelo pensamento
deixando que o pensamento siga por onde quiser
faça e viva o que bem quiser

levado por onde o pensamento entende
o meu corpo nem sempre lhe obedece ou dá forma
chegando mesmo a rebelar-se e a fazer-lhe frente
dizendo não quando o que lhe é pedido é excessivo

feitos de matérias diferentes
o corpo e o pensamento tentam fundir-se num só
mas os compromissos são difíceis...

vivi colado ao pensamento que imaginava ser
ignorando o corpo que sou

os pensamentos chegam e partem
e o meu corpo permanece

cansado de tanta volubilidade
descolo-me do pensamento
e quando me procuro corpo
percebo que sou mais do que o corpo que conseguiria dizer pensando

no escuro... o meu corpo adormece
o meu pensamento ainda vagueia por onde entende
agora com o aspecto de sonho

o meu corpo continua a ignorar o meu pensamento
o meu pensamento recusa-se a parar
e eu observo um e outro... cada vez mais distante de ambos

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