sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Viver e Amar

amar... é um verbo que só sei conjugar na primeira pessoa do singular
sempre no presente...
conjugado noutro tempo e noutra pessoa
é aceitá-lo como acção distante e exterior

a felicidade e a alegria são os complementos da acção de amar
atributos do ser que age no presente
que quando se aceita como acção projectada no futuro ou no passado
aceita a ausência de si mesmo no tempo em que é ser
se aceita como projecto adiado ou fora de tempo
impossível na acção de amar
longe das experiências da felicidade e da alegria

amar é uma acção que implica um objecto...
se escolher um de entre os que a existência me oferece a cada momento
ignorando todos os outros
limitando essa acção
acabo por ter que definir para os que não considerei outra acção qualquer
e quando o faço
o objecto que escolhi desaparece e dilui-se em todos os outros que rejeitei

sem objecto próximo sobre o qual exercer a acção de amar
arranjo substitutos
transporto-me para um tempo e um espaço em que recupero o objecto da minha eleição
entregando-me ao sonho de amor que não é amar
entregando-me à ideia da felicidade e da alegria
que não são nem a felicidade nem a alegria

a minha recusa em aceitar a mudança constante dos objectos a amar
a que a existência me obriga ignorando a minha vontade e o meu entendimento
nunca me permitindo fixar num sob pena de perder todos
deixa-me a sensação de mal-estar que me faz olhar para o presente com desconfiança

o futuro e o passado parecem mais promissores

quanto mais fujo do presente
menos reconheço em mim a acção de amar
mais evidente se torna a ausência da felicidade e da alegria
menos disponível me torno para tudo o que a existência me oferece a cada momento

decido...
se não posso amar um (o que eu quero)... então não vou amar nenhum

preso deste entendimento
aceito arrastar-me pela vida fora
sem amar
sem experimentar a felicidade e a alegria
sem conseguir voltar a sentir a liberdade de um tempo em que amando um amava todos
contentando-me com os substitutos que aprendo
espalhando a ausência da felicidade e da alegria que sou capaz

liberto-me do entendimento
aceito tudo o que a existência me propõe como objecto de amor em cada momento
aceito amar sem excluir
aceito amar como uma acção que protagonizo segundo a segundo
sempre no presente
incidindo sobre o que é presente comigo
e recupero as sensações de felicidade e de alegria

percebo...

a liberdade não é uma ideia...
é uma condição indiscutível da matéria que sou
matéria essa que é animada pela acção de amar
de que resulta o acontecer de que me dou conta
que tem na felicidade e na alegria a sua manifestação visível

amando um... amo todos
se não amar um... não amo nenhum

viver é uma acção que se for noutro tempo que não o presente
não é viver...

amar... é um verbo que só posso conjugar na primeira pessoa do singular
sempre no presente...

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