terça-feira, 28 de abril de 2009

Senhores do Silêncio

as palavras que oiço
parecem votadas a ser o corpo de um aparente lamento
de razões que entram na dor em busca da perda que celebram
esquecendo-se do que nunca souberam poder ser

deixo-me possuir por elas
descubro-lhes os propósitos inconfessáveis nas mentes de quem as usa
adivinho-lhes a solidão que todas as palavras do mundo não fazem desaparecer

anunciam caminhos que se desconhecem
fazendo da aparente alegria que traduzem e se acredita desejar eterna
um prenúncio da tristeza inevitável que se lhes define como fado

as palavras são o canto da felicidade que cada um ensaia
que por medo de poder sê-la mais do que de nunca a vir a alcançar
assumem na sua forma os sons da derrota numa batalha que ninguém trava

são a tentativa de fuga de um silêncio que não evitam
procuram-se senhoras de uma magia que já ninguém lembra e poucos conheceram
celebram uma vida que nunca experimentaram

quem as conhece ensaia-se aprendiz de feiticeiro...

os que lhe escapam ao encanto descobrem-se mestres nas artes do entendimento da existência...

os senhores do silêncio fazem das palavras a parte menor da vida
emprestando-lhes um valor novo
a que as razões de lamento nenhum conhecido se sobrepõe