quinta-feira, 23 de abril de 2009

A vida em mim...

a vida em mim
definiu-se pelo atravessar das pontes que me ligavam ao que me rodeava

algumas delas dei-me conta de as estar a atravessar...
mas a maior parte das vezes fi-lo e não me dei conta de o fazer

são pontes que não me lembro de ter construído
ou se fui eu que as construí alguma vez
mas quando me dei conta da vida em mim
dei-me conta de que atravessava nesse momento uma qualquer ponte

são caminhos que pensava permitirem-me chegar ao que me rodeava
são caminhos que pensava permitirem que o que me rodeava cheguasse até mim

com a passagem do tempo
continuaram a ser muitas as pontes que atravessei a cada instante
mas foram poucas as que me despertaram a atenção a ponto de me dar conta delas

durante muito tempo
das pontes que me dei conta de transitar
entendi ter que as atravessar sob pena de caírem
caindo com elas o mundo a que por elas acedia

quando percebi que nada se alterava de forma catastrófica
passei a recear perder o acesso ao que me rodeava
se deixasse cair a dita ponte por falta de uso...

como se o que me rodeasse fosse determinante da vida que em mim entendia

vou percebendo que não acontece nem uma coisa nem outra

enquanto fosse vida estaria sempre a atravessar uma qualquer ponte
quer me desse conta disso... ou não
quer pensasse saber para onde ia... ou não
porque a vida era isso mesmo... a travessia de uma ponte

das pontes... apercebo-me agora
que as que considerava reais
não o eram ao nível do que delas entendia
ou dos destinos a que por elas pensava poder aceder
essas... deixei de lhes dar atenção e de procurar atravessá-las

agora...

as pontes... deixaram de ser para mim pontes
e passaram a ser lugares em que aconteço
na passagem do que para os outros é vida
numa travessia entre o que nelas é origem ou destino
face ao que do que o que as rodeia entendem...

para a mim... o lugar em que estou é origem e destino
não é ponte que me leva a lugar nenhum
porque não há lugar nenhum de onde sair
porque não há outro lugar onde estar
porque não há lugar nenhum para onde ir