quarta-feira, 6 de maio de 2009

As Filhas da Razão

olho para as palavras que me preenchem o pensamento
e vejo-as como filhas do que em mim chamei razão

foram crianças teimosas e caprichosas
que me governaram a existência com um destempero assustador
metendo-se entre mim e a existência
isolando-me do mundo e da vida
fazendo-me delas prisioneiro
enquanto me transformavam a existência num inferno

pacientemente deixei-me crescer
primeiro com elas...
e depois para além delas quando esgotaram a sua capacidade de tentar ser o que não eram

a consciência que não conseguiam e em mim se cumpria
devolveu-me a autoridade que aceitara perder... em nome da razão

pela importância que lhes dava
as palavras mais pareciam ser as mães do que as filhas que eram

cansado de tanto disparate
decidi pôr ordem no galinheiro...

hoje as palavras filhas da razão saem à rua de mão dada
devidamente aperaltadas para cada ocasião
limitadas nos excessos e aos contextos ajustadas

a mãe razão... vai envelhecendo
fazendo da vida que imagina nas filhas a vida que já não tem

o fim de umas e outras é em mim inevitável...

mas não se tema pela sua continuidade
a sobrevivência da espécie está garantida...
não porque as novas sejam passíveis de ser geradas por qualquer meio natural de procriação
mas porque a adopção é a única forma conhecida de se perpetuarem...

e são tantos os candidatos dispostos a adoptarem tais filhas da mãe... razão
que não há razão... para preocupações