as palavras... sempre as palavras
as palavras não são boas nem más
as palavras não têm forma nem quando as escrevo
as palavras não são tristes nem alegres
as palavras não agridem nem afagam
são só palavras...
não encerram nenhum poder oculto
há pessoas que se projectam nas palavras
emprestando-lhes um sentido que nada tem a ver com as palavras em si
manejam-nas como arma ou como perfume envolvente
associam-lhe propósitos secretos ou nem tanto
fazem delas lamento ou afirmação do que entendem ser
usam-nas como companhia de uma solidão cheia de ausências
com elas substituem o mundo que não conseguem encontrar
quem das palavras se decide receptor
vê nelas o que delas em si entende e julga nos outros ser propósito
faz-se das palavras o mundo que designam sem que ele nunca lá esteja
e quando se olha para o mundo já não se vê o mundo...
vêem-se as palavras que o designam
animadas dos sentidos e propósitos que cada um consegue
vê-se nas palavras a vida e a morte que se deseja ou receia
carregadas com os fantasmas que com as palavras se criaram
quando se vê o mundo
percebe-se a pobreza da representação que as palavras conseguem
há quem se mantenha agarrado a todas as palavras da glória ou da desgraça
fazendo da sua vida um inferno
eu quero mais é que as palavras se lixem
porque depois de saborear a realidade...
não há palavras que a substituam