sexta-feira, 8 de maio de 2009

Saborear a realidade

as palavras... sempre as palavras

as palavras não são boas nem más
as palavras não têm forma nem quando as escrevo
as palavras não são tristes nem alegres
as palavras não agridem nem afagam

são só palavras...
não encerram nenhum poder oculto

há pessoas que se projectam nas palavras
emprestando-lhes um sentido que nada tem a ver com as palavras em si

manejam-nas como arma ou como perfume envolvente
associam-lhe propósitos secretos ou nem tanto
fazem delas lamento ou afirmação do que entendem ser
usam-nas como companhia de uma solidão cheia de ausências
com elas substituem o mundo que não conseguem encontrar

quem das palavras se decide receptor
vê nelas o que delas em si entende e julga nos outros ser propósito

faz-se das palavras o mundo que designam sem que ele nunca lá esteja
e quando se olha para o mundo já não se vê o mundo...
vêem-se as palavras que o designam
animadas dos sentidos e propósitos que cada um consegue

vê-se nas palavras a vida e a morte que se deseja ou receia
carregadas com os fantasmas que com as palavras se criaram

quando se vê o mundo
percebe-se a pobreza da representação que as palavras conseguem

há quem se mantenha agarrado a todas as palavras da glória ou da desgraça
fazendo da sua vida um inferno

eu quero mais é que as palavras se lixem
porque depois de saborear a realidade...
não há palavras que a substituam