sento-me à sombra de um sol quente de ventos parados
deixo-me invadir por todos os gritos do que me rodeia
uns de prazer
muitos de dor
a maior parte apenas vazios...
os propósitos da vida perderam-se nos sonhos que nunca foram realidade
e os novos propósitos que aos velhos se substituíam
perderam-se numa fonte que secou com o silêncio dos meus desejos
com o fim da ideia de que a rendição e obrigação ao sonho me comandaria a vida
aceito a certeza de uma morte que todos anunciavam
pelos propósitos desaparecidos que a vida se supunha sustentarem
e verifico que a vida continua...
indiferente ao que quer que me proponha ou não
na perfeita ignorância do que faço
mesmo quando feito com a melhor e mais nobre das intenções
o vento que não se faz sentir
diz-me na pele que nada há para fazer...
o sol oferece-me a sombra que preciso para apreciar a tranquilidade do momento
são muitos a fazer muita coisa com os mais inquestionáveis dos propósitos
mas poucos ou nenhum a fazer o que verdadeiramente podem fazer...
viver
cada vez que alguém faz alguma coisa a caminho dos seus sonhos
alguma coisa da realidade deixa de acontecer
nem que seja a consciência e o gozo pleno do que se vive
os propósitos de que involuntariamente faço parte não os posso evitar
limito-me a ficar de fora...
limito-me a permanecer em silêncio
faça eu o que fizer a vida seguirá o caminho que tiver que seguir
neste momento de bem-estar fundo
a vida cumpre-se no que se encontra nos limites do que o meu corpo alcança e regista
fora desse espaço... outras serão as vidas e as realidades
só não será a minha vida
para mim... o que a existência me oferece agora deixa-me satisfeito
sem desejo nem propósitos a cumprir fora deste tempo e noutro lugar qualquer
o que vier será bem vindo
recebê-lo-ei com o sorriso possível
pouco preocupado com o que não é e que os outros entendam que poderia ou deveria ser
sou feliz sem razões nem propósitos
da felicidade dos outros... não sei
dela...terão eles que dar conta