sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Imperturbável

a lua espreita por cima dos telhados...
tímida mas determinada salta detrás deles e ergue-se preguiçosamente

luminosa...
indiferente aos que se sentem tocados pela sua presença
indiferente à indiferença dos que dela nem sequer se dão conta
indiferente... apenas indiferente...

segue agora mais alta no céu negro...
abafando o brilho ténue de uma ou de outra estrela que se lhe coloca na proximidade...
aceitando a ameaça das nuvens que não se sabem com o propósito de a esconder
sem se perturbar...
cheia e redonda...

deixa-se possuir pela fantasia dos homens
serve de causa para as causas que não escolhe
não participa nas histórias de que a fazem parte
testemunha silenciosamente os tempos sem fim da eternidade
permanece distante...

segue-me nas ausências em que a tento fazer presa das minha palavras
mas continua imperturbável...
livre...
sempre presente...
indiferente...

não lhe consigo acompanhar o brilho emprestado que não pediu...
que não lhe tira nem lhe acrescenta
apenas lhe realça os encantos que lhe fantasio...

segue com uma determinação que não consigo...

sou obrigado a voltar à brevidade do meu sono
povoado pela luz difusa da minha memória
pintado com as cores vazias dos sonhos que ainda insistem em ficar
que não me orientam nem me desviam do meu caminho...
apenas me distraem...

e ela segue segura e tranquila
cada vez mais alta...

e eu vou seguindo... cada vez mais seguro e tranquilo
cada vez mais no lugar em que tenho que estar... seja ele qual for