a realidade que deixo que me toque
torna-se parte de mim
revelando-se e entregando-se no momento em que se tenta esconder e tomar-me
torno-me senhor involuntário de uma realidade que não procuro...
que não sabia sequer possível...
ao tentar cumprir-me no que me rodeia
procurando alterar o que não pode ser alterado
volto à ignorância e cegueira da ilusão das certezas com que encho a vida
acabando escravo... por uso indevido da liberdade que me foi concedida
o fascínio pelo poder que se descobre com a consciência da realidade
é inevitável...
como inútil é a tentativa de o usar em proveito próprio e na medida dos meus desejos
a existência permite-me a vida
mas não viabiliza a quebra impune dos equilíbrios de que é feita
nem pela mais nobre das razões invocadas...
para continuar neste caminho de silêncios
tenho que entregar-me aos desígnios do nada que não se entende
fruindo da oportunidade de ser vida
sendo dela parte...
sem nunca nela tentar fazer-me parte
