sábado, 17 de outubro de 2009

Sou a forma do tudo e do nada...

a existência dá-me a vida e oferece-me o mundo

a vida dá-me um corpo e convida-me a descobrir o mundo em todos os gestos de que sou capaz
e porque todos os gestos nascem no lugar dos silêncios
que a razão não alcança e em que o nada se confunde com o tudo
a existência e a vida conjuram para me fadar ao amor
energia tangível do sentir que me anima
que tem por condição a liberdade e consequência a felicidade...

mas – há sempre um mas...

aprendo a liberdade o amor e a felicidade nos gestos de todos
que por outros não conhecer... tomo por certos

torno-me um bom discípulo dos mestres que não conheço

torno-me imagem reflectida de todos
sendo os meus gestos... a imagem reflectida dos gestos dos que são ou foram vida comigo

confundo a imagem reflectida da realidade com a realidade...

aceito-me reflexo... e enquanto reflexo
imagem parcial e invertida de mim e do mundo

no lugar em que só existe um passam a existir muitos
os sins da realidade misturaram-se com os nãos das suas imagens reflectidas
e perco-me...

mas – há sempre um mas...

os gestos aprendidos e reflexo de outros gestos vão-se esgotando

já só me resta entregar aos gestos a que a existência me convida e a vida oferece no corpo de que sou capaz
movo-me pelo amor...
vivo em permanência a liberdade absoluta...
experimento a felicidade constante...

saío do mundo dos espelhos
saio do mundo das imagens reflectidas e por isso parciais e invertidas
o mundo das ilusões e da fantasia... deixa de ser o meu mundo

liberto-me do encanto da descoberta da minha imagem reflectida no espelho que um dia alguém me colocou à frente
na forma das palavras com que os que me rodeiam me chamam...

tudo o que digo e faço... são gestos
uma imagem reflectida de uma realidade que não é a realidade...

na realidade... eu sou o amor e amar é o meu gesto de descoberta do mundo
na realidade... eu sou a liberdade e ser livre é a condição dos meus gestos de descoberta do mundo
na realidade... eu sou a felicidade e ser feliz é o resultado dos meus gestos de descoberta do mundo

sou o substantivo dos verbos que os meus gestos conjugam na descoberta do mundo
sou a forma do tudo e do nada que se cumpre no lugar dos silêncios...
sejam quais forem os meus gestos