domingo, 13 de dezembro de 2009

Encantos de um novo tempo

preparo o meu corpo para a chegada do inverno...
deixo cair as últimas folhas que me escondem a nudez
a luz escassa e o calor frágil fazem-me adormecer o sangue que me corre nas veias
e convida-me ao recolhimento

despido
aguardo vertical e imóvel a chegada dos rigores do frio
as folhas mortas do que um dia foi a minha vida espalham-se e misturam-se aos meus pés
sopradas pelo vento que as faz voltear numa dança solitária sem compasso
seguindo sem destino nem propósito

permaneço quieto...
sobreviver é a condição que não escolho
retiro da terra em que firmo as minhas raizes a vida escassa que me fará vida noutro tempo
deixo que a minha pele se enrugue lentamente... assinalando o meu lento crescimento

vejo-me fustigado pela adversidade que não entendo e não questiono
só posso permanecer quieto na minha nudez anónima involuntária e indiferente

preparo-me para passar a dureza do inverno
com a tranquilidade das árvores grandes da vida
não sinto tristeza nem dor no meu silêncio
não me sinto em perda...
percebo-me apenas em transformação

é tempo de descobrir os encantos deste novo tempo
despido das manifestações de vida que já não sou
livre da ideia do que virei ou não a ser
livre...