quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Passageiro

caiem gotas de chuva feitas de uma água espessa e gelada
que me encharcam a roupa sem me molhar a pele seca
deixo o corpo imóvel e sigo pelos lugares cheios de sol
banhando-me num mar de flores quentes de todas as cores e aromas

passeio-me pelos corpos vazios que ostentam as brilhantes lantejoulas das suas mil e uma razões
e descubro-me estrangeiro num mundo cheio de fronteiras imaginárias

entro nos lugares do silêncio e encontro-os vazios...
o sagrado do imaginário dos homens saiu para parte incerta e não tem data de regresso anunciada

palavras e gestos abandonados entopem a vida esquecida dos homens
que se afogam nos certos e errados dos seu caminhos imprecisos e sem saída

enchem-se de esperança... porque um novo ano se aproxima
esperança de que a vida lhes traga o que eles não se atrevem a ser

repetem-se as danças rituais da passagem...
e ninguém sai de onde está...

volto ao meu corpo imóvel...
serei o passageiro da viagem que ele me permite...
só lhe posso retribuir o abrigo que me dá
com a experiência da liberdade
com a experiência do amor e da felicidade que sou
na forma de um sorriso...
na forma da mais estrondosa gargalhada...