terça-feira, 30 de março de 2010

resta-me apenas...

procurei aprender e tomar por minhas as mais belas palavras com que chamei o mundo e a vida

mas um ignorou-me e a outra passa indiferente sem parar

por instantes senti-me tentado pela tristeza e pela dor
mas não foi esse o fado a que a existência me votou...

quis a mesma existência dar-se a conhecer para além de todas as palavras
instalando-se no espaço infinito que entre elas se desenha
convidando-me a mergulhar nesse silêncio profundo longe do sentir breve que conhecia

tentei fazer desse silêncio o meu caminho
e percebi que nessa dimensão da existência não há caminhos...
há apenas... silêncio
há apenas lugares em que a vida acontece

percebi que sou um lugar
e os lugares não caminham...
tem-se deles apenas a consciência...

a sucessão de palavras em que transformei a minha vida esgota-se...
nenhuma palavra dura mais do que o tempo que leva a ser dita e a ser esquecida
e eu... não sou nenhuma

resta-me apenas o silêncio...
resta-me apenas entregar-me à consciência do silêncio do lugar que sou
e deixar que a vida aconteça com o desenho das palavras que cada um tomar por suas